ENTREVISTA EM DUAS PARTES
Continuando...
Blog-Will43: Você, então, chegou ao objetivo mais alto de um autor. E como foi que lidou com a perda súbita desta grande oportunidade.
Roberto: No
primeiro momento eu me senti desolado, tinha feito um livro ruim que, no entanto, era um excelente script cinematográfico; e tentei entender por que aquilo acontecera
comigo. E hoje eu penso que poderia ter sido pior se não
estivesse familiarizado com a dificil missão de fazer ficção no Brasil, pois
eu havia comparecido aos debates e palestras patrocinadas pelo Clube de Leitores de Ficção Científica.
E nestes encontros conheci o trabalho de muita gente, inclusive o nosso desenho 3D, Cassiopéia. E também fiz amizade com o fanzineiro
César R. T. Silva,
que me apresentou a membros do clube, como o Roberto Causo. Através do clube eu assisti a
uma palestra com o escritor George
Lodi, da qual
gostei muito. E todos eles pareciam seriamente empenhados em divulgar o gênero realismo
fantástico, inclusive, publicavam anualmente suas antologias. Um dos contos
de que me lembro se chamava, Camarões do Espaço.
Quando eu comecei a falar do meu trabalho para eles, o César se propôs
a publicar um texto curto em seu fanzine, então entreguei a ele o conto de uma
página: o perdão do mendigo, que já havia publicado no Jornal de bairro Expressão da Liberdade.
Quando leu pediu-me para esclarecer se o Matador
de Estrelas era uma nuvem. Na hora eu não compreendi
o motivo de ele fazer tal comparação, mas a primeira imagem que me veio à cabeça
foi o retorno de V'ger em Star Trek: the motion picture, de 1979, e só recentemente descobri a que se referia.
Dias atrás visitei uma página de blog onde encontrei o conto: A Escuridão, de André Carneiro, publicado em 1922, que fala como uma grande
nuvem de poeira estelar cruza com a órbita da Terra e encobre o Sol,
mergulhando o planeta na escuridão por alguns dias. Além de nunca ter lido este
conto antes, não vi qualquer semelhança que possa comprometer o perdão do mendigo, pois neste o
colapso da estrela de um mundo fictício é provocado por um objeto celeste desconhecido e leva o
sistema solar à destruição.
Blog-Will43: Agora você tocou num assunto muito interessante para
tratarmos aqui, que é a mania de alguns críticos de comparar o trabalho de um
novo autor com obras consagradas. Qual sua opinião a respeito disto?
Roberto:
Eu vivi esta experiência e tenho medo disto. Apesar
de minha obra não estar na mídia sei que é possível aparecerem ideias
semelhantes, mas a proposta de Escuridão
Absoluta e dos demais títulos de minha autoria é original. Também já
desisti de alguns projetos por causa da similaridade do insight com algo que,
porventura, surgiu depois de eu ter aquilo em mente. A não ser que exista
telepatia, o senhor Batata
podia ter sido um boneco de pano numa aventura infantil de suspense. Logicamente
a figura do personagem da Pixar em nada se assemelha ao que eu tinha em mente, mas o nome estará eternamente ligado
ao personagem em 3D.
Blog-Will43: E você já encontrou
algo parecido com Escuridão Absoluta?
Roberto: Não. Escuridão
Absoluta é única no gênero.
Exceto pela suspeita de frases e parágrafos que encontrei aqui e ali, nada até
agora chegou perto de ser a mesma história.
Blog-Will43: A que frases e parágrafos você se refere?
Roberto:
Bom. Quando trabalhava para apresentar Escuridão
Absoluta às Editoras peguei uma série de textos curtos
criados para marcar o avanço do Matador
de Estrelas pelo Universo, que apareceriam intercalados entre
os capítulos, e os transformei em cartão
de visita. Foi inconveniente
ver mais tarde, em 2002, ideias parecidas no texto de abertura de uma serie em quadrinhos
envolvendo super-heróis americanos. Mas na tradução para o português as ideias
imprecisas ficam claras, ora referindo-se na trama à um destruidor de estrelas e
outras vezes chamando-o de Devorador
de Mundos. O caso mais recente aconteceu enquanto eu assitia ao
12º episódio de um spin-off na televisão, quando
ouvi o personagem dizer o destino
da missão, repetindo literalmente na legenda o conteúdo que estava em um parágrafo do cartão de visitas. Porém, o seriado acabou não encontrando destino com este argumento, assim como eu já havia descartado seu uso no livro pelo mesmo motivo. Estes dois casos são com certeza mais do que coincidência, fora outro caso, mais antigo,
envolvendo Sem Vestígios.
Apesar disto ser uma afronta moral contra o verdadeiro autor, o uso das ideias não foi proposital.
Alguém se apropriou delas e as apresentou à produção como sendo seu autor,
prática que quando descoberta termina com o encerramento da serie.
Provavelmente, com a digitalização dos
recursos de proteção do direito autoral aqui no Brasil esta pratica abusiva
será cada vez menos habitual.
Blog-Will43: Direito autoral é
realmente complicado. O autor amador geralmente não tem noção do que está
fazendo quando usa parâmetros de outra obra. E a melhor maneira de encerrarmos
esta conversa será dizendo um pouco sobre o próximo livro de Escuridão
Absoluta.
Roberto:
Tudo bem. Mas eu queria lembrar sobre o que eu havia dito anteriormente de fazer a aventura
em duas partes.
Blog-Will43: Claro, eu me lembro. Foi na sua primeira entrevista.
Roberto:
Pois é, isso mudou. Eu fiquei tão atarefado ultimamente que me deparei
com a falta de perspectiva de encerrar a historia até o final de 2012. Não foi por falta de ideias, mas pela constatação de que havia criado um estilo dentro do emaranhado de textos. Quem lê o Volume dois percebe que a historia de Loma progride lentamente para o clímax enquanto a do Matador de Estrelas é contada de trás pra frente. Isto fez com que eu retomasse o plano original, abrindo mais um volume.
Blog-Will43: Isto até que é bom.
Como você disse antes, o leitor precisa de tempo para digerir toda a informação
e entender a trama no pano de fundo da história.
Roberto:
Exatamente. E no Volume II, Loma fará descobertas incríveis sobre os Senhores de Orgiyê enquanto tenta se adaptar ao regulamento de convivência dentro da
astronave. No entanto, o foco principal da historia fica sendo a origem do Matador de
Estrelas, e os leitores ficarão extasiados à espera do Volume III.
Blog-Will43: Estou certo de que o
leitor irá ver a mudança como uma forma de a história continuar
interessante. E agradeço também por ter revelado suas experiências, pois agora sabemos o quanto vem batalhando por seu espaço.
Roberto:
Agradeço por esta nova oportunidade e aproveito
para dizer que: o sucesso
vem em consequência do que se aprende com os erros e fracassos.
Tchau!
Blog-Will43: Muito bem. E
encerramos na moral. Um abraço!
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