segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A HISTÓRIA POR TRÁS DA ESCURIDÃO - PARTE II



ENTREVISTA EM DUAS PARTES

Continuando...

Blog-Will43: Você, então, chegou ao objetivo mais alto de um autor. E como foi que lidou com a perda súbita desta grande oportunidade.
Roberto: No primeiro momento eu me senti desolado, tinha feito um livro ruim que, no entanto, era um excelente script cinematográfico; e tentei entender por que aquilo acontecera comigo. E hoje eu penso que poderia ter sido pior se não estivesse familiarizado com a dificil missão de fazer ficção no Brasil, pois eu havia comparecido aos debates e palestras patrocinadas pelo Clube de Leitores de Ficção Científica. E nestes encontros conheci o trabalho de muita gente, inclusive o nosso desenho 3D, Cassiopéia. E também fiz amizade com o fanzineiro César R. T. Silva, que me apresentou a membros do clube, como o Roberto Causo. Através do clube eu assisti a uma palestra com o escritor George Lodi, da qual gostei muito. E todos eles pareciam seriamente empenhados em divulgar o gênero realismo fantástico, inclusive, publicavam anualmente suas antologias. Um dos contos de que me lembro se chamava, Camarões do Espaço. Quando eu comecei a falar do meu trabalho para eles, o César se propôs a publicar um texto curto em seu fanzine, então entreguei a ele o conto de uma página: o perdão do mendigo, que já havia publicado no Jornal de bairro Expressão da Liberdade. Quando leu pediu-me para esclarecer se o Matador de Estrelas era uma nuvem. Na hora eu não compreendi o motivo de ele fazer tal comparação, mas a primeira imagem que me veio à cabeça foi o retorno de V'ger em Star Trek: the motion picture, de 1979, e só recentemente descobri a que se referia. Dias atrás visitei uma página de blog onde encontrei o conto: A Escuridão, de André Carneiro, publicado em 1922, que fala como uma grande nuvem de poeira estelar cruza com a órbita da Terra e encobre o Sol, mergulhando o planeta na escuridão por alguns dias. Além de nunca ter lido este conto antes, não vi qualquer semelhança que possa comprometer o perdão do mendigo, pois neste o colapso da estrela de um mundo fictício é provocado por um objeto celeste desconhecido e leva o sistema solar à destruição.
Blog-Will43: Agora você tocou num assunto muito interessante para tratarmos aqui, que é a mania de alguns críticos de comparar o trabalho de um novo autor com obras consagradas. Qual sua opinião a respeito disto?
Roberto: Eu vivi esta experiência e tenho medo disto. Apesar de minha obra não estar na mídia sei que é possível aparecerem ideias semelhantes, mas a proposta de Escuridão Absoluta e dos demais títulos de minha autoria é original. Também já desisti de alguns projetos por causa da similaridade do insight com algo que, porventura, surgiu depois de eu ter aquilo em mente. A não ser que exista telepatia, o senhor Batata podia ter sido um boneco de pano numa aventura infantil de suspense. Logicamente a figura do personagem da Pixar em nada se assemelha ao que eu tinha em mente, mas o nome estará eternamente ligado ao personagem em 3D.
Blog-Will43: E você já encontrou algo parecido com Escuridão Absoluta?
Roberto: Não. Escuridão Absoluta é única no gênero. Exceto pela suspeita de frases e parágrafos que encontrei aqui e ali, nada até agora chegou perto de ser a mesma história.
Blog-Will43: A que frases e parágrafos você se refere?
Roberto: Bom. Quando trabalhava para apresentar Escuridão Absoluta às Editoras peguei uma série de textos curtos criados para marcar o avanço do Matador de Estrelas pelo Universo, que apareceriam intercalados entre os capítulos, e os transformei em cartão de visita. Foi inconveniente ver mais tarde, em 2002, ideias parecidas no texto de abertura de uma serie em quadrinhos envolvendo super-heróis americanos. Mas na tradução para o português as ideias imprecisas ficam claras, ora referindo-se na trama à um destruidor de estrelas e outras vezes chamando-o de Devorador de Mundos. O caso mais recente aconteceu enquanto eu assitia ao 12º episódio de um spin-off na televisão, quando ouvi o personagem dizer o destino da missão, repetindo literalmente na legenda o conteúdo que estava em um parágrafo do cartão de visitas. Porém, o seriado acabou não encontrando destino com este argumento, assim como eu já havia descartado seu uso no livro pelo mesmo motivo. Estes dois casos são com certeza mais do que coincidência, fora outro caso, mais antigo, envolvendo Sem Vestígios. Apesar disto ser uma afronta moral contra o verdadeiro autor, o uso das ideias não foi proposital. Alguém se apropriou delas e as apresentou à produção como sendo seu autor, prática que quando descoberta termina com o encerramento da serie. Provavelmente, com a digitalização dos recursos de proteção do direito autoral aqui no Brasil esta pratica abusiva será cada vez menos habitual.
Blog-Will43: Direito autoral é realmente complicado. O autor amador geralmente não tem noção do que está fazendo quando usa parâmetros de outra obra. E a melhor maneira de encerrarmos esta conversa será dizendo um pouco sobre o próximo livro de Escuridão Absoluta.
Roberto: Tudo bem. Mas eu queria lembrar sobre o que eu havia dito anteriormente de fazer a  aventura em duas partes.
Blog-Will43: Claro, eu me lembro. Foi na sua primeira entrevista.
Roberto: Pois é, isso mudou. Eu fiquei tão atarefado ultimamente que me deparei com a falta de perspectiva de encerrar a historia até o final de 2012. Não foi por falta de ideias, mas pela constatação de que havia criado um estilo dentro do emaranhado de textos. Quem lê o Volume dois percebe que a historia de Loma progride lentamente para o clímax enquanto a do Matador de Estrelas é contada de trás pra frente. Isto fez com que eu retomasse o plano original, abrindo mais um volume.
Blog-Will43: Isto até que é bom. Como você disse antes, o leitor precisa de tempo para digerir toda a informação e entender a trama no pano de fundo da história.
Roberto: Exatamente. E no Volume II, Loma fará descobertas incríveis sobre os Senhores de Orgiyê enquanto tenta se adaptar ao regulamento de convivência dentro da astronave. No entanto, o foco principal da historia fica sendo a origem do Matador de Estrelas, e os leitores  ficarão extasiados à espera do Volume III.
Blog-Will43: Estou certo de que o leitor irá ver a mudança como uma forma de a história continuar interessante. E agradeço também por ter revelado suas experiências, pois agora sabemos o quanto vem batalhando por seu espaço. 
Roberto: Agradeço por esta nova oportunidade e aproveito para dizer que: o sucesso vem em consequência do que se aprende com os erros e fracassos. Tchau!
Blog-Will43: Muito bem. E encerramos na moral. Um abraço!

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